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A arte de viver, parte final

 O COMEÇO É DIFÍCIL

 

Os primeiros passos no caminho da sabedoria são os mais estafantes, porque nossa alma fraca e teimosa detesta o esforço (sem garantia completa de recompensa) e o desconhecido. À medida que você progride, sua decisão se fortalece e o aprimoramento pessoal se torna progressivamente mais fácil. Aos poucos, na realidade, passa a ser até difícil deixar de fazer o que é melhor para você.

O compromisso firme e ao mesmo tempo paciente de remover as crenças nocivas de nossa alma nos confere pouco a pouco a habilidade de ver com mais clareza através de nossos frágeis temores, de nossa desorientação nas questões amorosas e de nossa falta de autocontrole. Paramos de nos esforçar para impressionar os outros. Um belo dia percebemos com satisfação que não estamos mais representando para plateia alguma.

 

 

DESCONFIE DAS CONVENÇÕES SOCIAIS

 

Desconfie das convenções sociais. Assuma a sua maneira de pensar.

Desperte do entorpecimento causado pelos hábitos adotados sem reflexão.

As formas de percepção populares, os valores e maneiras comuns de se fazer as coisas raramente são os mais sábios. Muitas crenças amplamente difundidas não passariam com sucesso por um teste de racionalidade. O pensamento convencional — seus meios e fins — é em essência pouco criativo e desinteressante. Sua função é preservar o status quo para indivíduos e instituições exclusivamente preocupados em se proteger.

Por outro lado, não há nenhuma virtude inerente nas novas ideias. Julgue as ideias e oportunidades pelo que elas têm de revigorante, de vivificante. Dê seu apoio ao que promove o sentido de humanidade, de justiça, de crescimento benéfico, de bondade, de possibilidades positivas e de proveito para a comunidade humana.

Examine as coisas de acordo com a impressão que causam em sua mente. Considere objetivamente o que é dito pelos outros e depois estabeleça suas próprias convicções.

As crenças socialmente aprendidas não costumam ser confiáveis. Muitas de nossas crenças são adquiridas casualmente ou nos foram transmitidas de maneira irresponsável ou ignorante. Há inúmeras delas tão profundamente arraigadas em nós que nem mesmo as percebemos. A banalidade e a indolência vividas por pessoas sem disciplina e reflexão podem ser muito contagiosas, sobretudo porque raramente estamos expostos à alternativa de um modo mais sadio de viver. Desperte para isso e fique atento. Avalie seus hábitos para preservar seus padrões mais elevados.

Muita gente declara com toda a sinceridade que faz questão de manter a própria integridade, mas ao mesmo tempo assume atitudes irrefletidas e imoderadas. O procedimento dessas pessoas é vacilante e elas sabotam seus esforços mais bem-intencionados por não enfrentarem sua verdade nem articularem um código moral próprio e coerente para pautar suas futuras ações. Não escute o que essas pessoas dizem. Observe o que fazem e avalie as consequências.

Assim como devemos limpar, arrumar e manter nossa casa, precisamos fazer o mesmo com nossa mente para poder seguir adiante em nossa vida. Porque, se não o fizermos, correremos não só o risco da ineficiência como o da corrupção de nossa mente. A mente desorganizada, nebulosa, está em perigo porque é vulnerável a influências mais bem organizadas, porém condenáveis.

Não confie em nada nem em ninguém antes de confiar em si mesmo. Mantenha-se permanentemente atento a suas convicções e seus impulsos.

 

 

A ÚNICA VIDA PRÓSPERA É A VIDA VIRTUOSA

 

A virtude é a nossa meta e o nosso propósito. A virtude que leva à felicidade duradoura não é uma bondade quid pro quo (“Serei bom para conseguir alguma coisa”). A bondade em si e por si é a prática e a recompensa.

Bondade não é piedade ostensiva ou boas maneiras flagrantes. É uma sucessão de sutis reajustes de nosso caráter ao longo da vida inteira. Afinamos progressivamente nossos pensamentos, palavras e atos, como se fossem instrumentos musicais, para um desempenho mais sadio. A virtude é inerente a nossas intenções e nossos atos, não o resultado deles.

Por que nos preocuparmos em ser bons? Ser bom é ser feliz, tranquilo e livre de inquietações. Quando você se empenha ativamente em aprimorar-se cada vez mais, abandona os hábitos preguiçosos de encobrir ou procurar desculpas para as próprias atitudes. Em vez de sentir um fluxo constante de vergonha impregnando o fundo de sua alma, você faz sua vida avançar utilizando as possibilidades criativas daquele momento preciso em que está vivendo. Você começa a ocupar integralmente aquele momento em vez de procurar escapar ou desejar que o que esteja acontecendo seja diferente. Você vive a sua vida de forma completa por estar de fato em cada um de seus momentos.

A vida virtuosa considera como tesouros: sua ação correta, sua fidelidade, sua honra e sua decência.

A virtude não é uma questão de graus, a virtude é um absoluto.

 

 

APRENDA A CURAR A SI PRÓPRIO

 

Sua implacável perseguição da sabedoria adia o momento de possuí-la de fato. Deixe de correr atrás de tônicos e de novos mestres. O sábio, o livro, a dieta ou a crença da moda não podem fazer você avançar na direção de uma vida em plenitude. Você pode. Renuncie às circunstâncias exteriores de uma vez por todas.

Pratique a autossuficiência. Não seja um paciente maleável, dependente. Torne-se o médico de sua própria alma.

 

Epicteto. A arte de viver: o manual clássico da virtude, felicidade e sabedoria. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

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