Como seria a rotina de uma jovem a serviço de uma família de mercadores?
À alvorada, ela abriria as janelas — afinal, o estabelecimento deveria estar operante às seis horas da manhã. Após retirar água do poço do bairro, acenderia o fogo sob a chaleira disposta na lareira embutida no piso e iniciaria o preparo do arroz para a primeira refeição do dia. À medida em que os demais integrantes da casa se levantassem, a garota guardaria as roupas de cama e, caso o tempo estivesse favorável, aproveitaria para arejar as colchas. Antes de regressar à cozinha para cuidar da sopa e lavar os vegetais na pia de madeira, varreria o chão de tatames.
Após servir o desjejum aos homens da casa, a moça se alimentaria na companhia das demais mulheres e talvez pechinchasse com um mascate antes de se dirigir ao hortifrúti e ao mercado de peixes. Horas depois, ajudaria a aprontar a segunda e última refeição do dia, servida no final da tarde. Talvez lavasse a louça antes de se dedicar à costura, vigiando as crianças. Um olho no peixe e outro no gato. Caso o patrão recebesse visitas, a jovem os serviria, diligentemente enchendo as taças de saquê à medida em que esvaziassem.
À noite, acenderia velas e lanternas e massagearia o patrão ou a patroa antes de cuidar do banho coletivo, o qual ela, a integrante de menor valor da casa, só poderia aproveitar depois dos demais. Talvez então, após tocar alguns acordes no shamisen e estender os futons, certificando-se antes de que todas as chamas estivessem extintas, a jovem pudesse descansar a cabeça no bloco de madeira côncavo e acolchoado utilizado como travesseiro.
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