Neste épico musha-e 武者絵, imagem de guerreiro casca grossa, Utagawa Kuniyoshi apresenta ele, mistura de Marcola com David Blaine, o mágico bandido Kidomaru. De pernas cruzadas em posição de lótus sobre uma píton gigantesca, o ilusionista fora-da-lei une as mãos em um gesto protetor e traz na boca dois aomatsuba 碧松葉, ramos verdes de pinheiro envolvidos num pano branco. Uma longa adaga está fincada na cabeça do ofídio, em torno da qual se retorcem cinco pequenas serpentes sibilantes. No rodapé, quatro karasu tengu 烏天狗, com asas e bico de corvo no lugar do nariz, testemunham a experiência ascética.
Trata-se do instante em que Kidomaru recebe ensinamentos dos tengu, mestres em artes marciais e técnicas militares avançadas, por meio de uma experiência mística e purgatória, ocasião em que o guerreiro acessa uma faceta da sua personalidade até então ignorada.
Os musha-e de Kuniyoshi eram ímpares — o artista deslocava figuras lendárias para situações que envolviam presságios em sonhos, aparições fantasmagóricas e outros eventos sobrenaturais —, em uma abordagem que refletia o novo apreço popular por imagens caóticas, assustadoras e bizarras.
Título: Kidomaru 鬼童丸 (c. 1840)
Artista: Utagawa Kuniyoshi 歌川国芳 (1798-1861)
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