A mãe se esfalfa para controlar a criança, que esperneia para se livrar dos seus braços. Ela tenta, em vão, fazer com que o filho use o banheiro. Jogado com desmazelo sobre os ombros, um quimono com padrões de folha de cânhamo.
As sobrancelhas da jovem estão raspadas, indício da sua condição de casada, assim como os dentes tingidos de preto, técnica conhecida por ohaguro お歯黒 e que utilizava limalha de ferro como matéria-prima. Além de realçar a beleza feminina, acreditava-se que contribuiria para manter os dentes saudáveis. Teorias especulam que, por serem parte visível do esqueleto — e, portanto, símbolo de morte —, os dentes eram impuros e, portanto, inapropriados para exibição pública, uma das razões, além do recato, pelas quais as japonesas levariam a mão à boca ao sorrir. O escurecimento dos dentes era feito por mulheres casadas e prostitutas, submetidas ao ohaguro como parte do rito de passagem à vida adulta, iniciada por volta dos 13 anos.
Em destaque, dois brinquedos tradicionais: um cata-vento e um boneco de madeira na forma de assombração. Mais especificamente, um hitotsume-kozo 一つ目小僧, yokai 妖怪 careca, caolho e linguarudo, porém inofensivo e fã incondicional de tofu. Os versos explicam ser o fantasma a causa do choro convulsivo da criança.
Título: Gozen sanji 午前三時
Série: Mitate chuya nijuyo ji no uchi 見立昼夜廿四時之内 (1890)
Artista: Toyohara Kunichika 豊原国周 (1835-1900)
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