Há mil e tantos anos, um monge chamado Shozan (?-990) se dedicava ao ascetismo. Jejuns prolongados, meditar embaixo de cachoeiras, pendurar-se em precipícios. O básico. Certa vez, descobriu estar praticamente sem provisões. Olhou pela janela: a neve se acumulava.
Dias depois, batidas à porta.
“Venho da parte da sua mãe”, disse o homem. Trazia arroz e uma carta.
Estou preocupada. Faz bastante frio. Cuide-se.
Palavras que transbordavam amor. Tomado de felicidade, o monge logo tratou de cozinhar uma porção do arroz.
“É modesto, mas, por favor, sirva-se”, ofereceu.
O visitante, porém, manteve-se imóvel.
“Sua mãe, ela estava angustiada. Cismou de enviar arroz para você, mas não havia recursos. Leva uma vida dura. Pediu dinheiro emprestado, em vão. Foi quando decidiu cortar os longos cabelos escuros e vendê-los. Assim, comprou o arroz. Cada grão está embebido de amor. Sou indigno de comê-los.”
Na carta, ela poupara detalhes.
“Buda ensina que a dívida de gratidão aos pais é infinita como os céus. E eu, tolo, não busquei conhecer a milésima parte desse débito.”
Desde então, cozinhava do próprio arroz e acrescentava um único grão daquele enviado pela mãe. Desse modo, praticava a ascese sem esquecer a gratidão a ela devida.
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