A bicha em questão, a sereia de Fiji, era bem da esquisita, feita a partir da metade posterior de um peixe costurada à cabeça e ao torso de um macaco adolescente. As criaturas eram manufaturadas no Japão com arame, papel machê, pele de peixe desidratada e mandíbula de símio com o intuito de representar uma antiga assombração conhecida por ningyo, peixe com feições de gente. Do século 17 até meados do século 19, o país mantinha uma rígida política segregacionista que restringia o intercâmbio com nações estrangeiras, o que fez com que marinheiros europeus desconhecessem o contexto por trás da sua criação e, maravilhados, se dispusessem a adquiri-las por somas exorbitantes. “Hoje, ninguém investiria em hipotéticas sereias, porém, na época, era um assunto que suscitava debates inflamados”, explica Sarah Peverley, professora da Universidade de Liverpool, Inglaterra.
E foi assim que a sereia de Fiji se tornou presença garantida em feiras e espetáculos. Ao vê-la em uma exibição na Batávia, atual Jacarta, o capitão norte-americano Samuel Barrett Eades acreditou piamente em sua autenticidade. Tanto, que vendeu a carga e um oitavo das ações do navio mercante The Pickering para comprar a dita-cuja de marinheiros holandeses pela bagatela de 126 mil dólares atuais. Com o troco, garantiu a passagem de volta para a Grã-Bretanha. No retorno, decidiu aportar na Cidade do Cabo, África do Sul, para expor a maravilha recém angariada, gesto repetido em Londres, onde a sereia permaneceu meses em cartaz.
Fama e fortuna, contudo, duraram pouco. Stephen Ellery, que detinha os sete oitavos restantes do The Pickering, entrou com uma ação judicial contra Eades por vender navio e carga sem autorização. Derrotado no litígio, restou ao capitão permanecer o resto da existência embarcado em alto-mar para saldar a dívida.
Bagulho é louco.
A sereia de Fiji acabou desacreditada pela comunidade científica.
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