CONTOS DE FADAS JAPONESES — O PARDAL DA LÍNGUA CORTADA
Certa vez, uma velha amarga como o remorso deixou goma de amido em um recipiente. Pretendia colocá-la nas roupas que lavaria na tina, porém o pardal de estimação da vizinha apareceu e comeu tudo. Só que a velha conseguiu apanhar a ave.
“Insolente!”, disse e cortou sua língua, libertando-o.
Ao saber do ocorrido, a vizinha partiu aflita com o marido para, juntos, percorrerem vales e montanhas em busca do bicho.
“Pardal! Pardal!”
Finalmente descobriram seu paradeiro. Quando a ave notou a presença do casal, pairou de felicidade, convidando-os a entrar para agradecer por toda gentileza e carinho a ele dedicados. Cobriu a mesa com saquê de qualidade e peixes frescos, no que contou com a ajuda da esposa pardal, dos filhos pardais e dos netos pardaizinhos. Horas depois, meio bêbado, executou uma típica dança do pardal.
Assim passaram o dia. Anoiteceu e, à menção de partir, a ave trouxe ao casal dois cestos de vime.
“Preferem o leve ou o pesado?”
“Somos de idade, preferimos o menor. Mais fácil de carregar.”
Ao chegar em casa, abriram o cesto. Ouro e prata, pedras preciosas, rolos de pura seda! O casal jamais concebera tamanho presente. Quanto mais tesouros retiravam, mais a cornucópia enchia. Do dia para a noite, tornaram-se ricos e prósperos.
Ao atinar o ocorrido, a velha amarga retorceu de inveja e perguntou à vizinha onde ficava a morada do pardal.
Que, da mesma forma, ofereceu à visita dois cestos de vime.
“Prefere o leve ou o pesado?”
Pensando em termos de proporção, a velha optou pelo maior, arrastando-os aos trancos e barrancos pelo caminho. Ao alcançar a residência e abrir a tampa, uma falange de horríveis demônios saltou do cesto e a estraçalhou.
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