8 ESCRAVIDÃO PELO FUNERAL PATERNO
a árvore prefere a inércia, mas o vento insiste em soprar
a pessoa quer ser boa aos pais, porém estes estão mortos
Durante a dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.) viveu Dong Yong, órfão de mãe. Para proporcionar os cuidados necessários ao pai adoentado, desdobrava-se em muitos, afinal viviam na penúria extrema. O jovem trabalhava nas lavouras, cujo estipêndio mal custeava os remédios prescritos. Com ternura, Dong Yong carregava o inválido genitor nos braços e o dispunha em uma carroça, que arrastava até a sombra de uma frondosa árvore próxima aos campos cultiváveis. Assim, mantinha um olho no peixe e outro no gato.
Anos se passaram, até que o ancião faleceu e Dong Yong, tendo gasto as minguadas economias em tratamentos emergenciais, viu-se sem recursos para custear um serviço funeral apropriado. A única alternativa encontrada foi negociar a si mesmo para a servidão contratual, sob a promessa de restituir o dinheiro penhorado.
Despachado o féretro, o rapaz se dirigia para a casa do recém empossado senhor quando se deparou com uma jovem no meio do caminho. Esta revelou que os pais haviam falecido e, agora, não encontrava a residência dos parentes próximos, que habitavam na região e deveriam acolhê-la. Então, implorou a Dong Yong que a tomasse por esposa e a levasse consigo, de modo a garantir sua segurança. O rapaz concordou.
Juntos, adentraram a morada do penhor, um tecelão de avareza notória que exigiu trezentos rolos de seda pela remissão do contrato. O rapaz calculou que, caso ele e a esposa trabalhassem com afinco, demorariam pelo menos três anos para o cumprimento da imposição. No entanto, para estupefação de Dong Yong, a moça executou a tecelagem em menos de trinta dias. Ainda mais estarrecido ficou o tecelão quando o casal entregou as peças e, missão cumprida, deixou o cárcere rumo à liberdade.
Passavam pela alfarrobeira em que se conheceram e, de súbito, a garota se deteve em silêncio sepulcral. Dong Yong questionou a razão de tamanho mutismo: “Agora sou um homem livre, você deveria estar feliz”. Lágrimas ziguezagueavam o rosto da esposa ao responder: “Sou uma imortal celestial. Era tamanha a nobreza em seu coração que, compadecida, desci das alturas para auxiliá-lo. Agora, porém, devo regressar”.
Entristecido, restou a Dong Yong acompanhar com os olhos a jovem ascender lentamente aos céus e desaparecer.
o funeral paterno, grilhões da servidão
uma jovem no caminho
cerze os tecidos da alforria
a devoção filial que tocou os céus
Imagem: To Ei 董永
Série: Nijushiko doji kagami 二十四孝童子鑑 (1840)
Artista: Utagawa Kuniyoshi 歌川国芳 (1798-1861)
Imagem: To Ei 董永
Série: Morokoshi nijushiko 唐土廾四孝 (1848)
Artista: Utagawa Kuniyoshi 歌川国芳 (1798-1861)
Comments