E eis a oportunidade daquele outrora conhecido por Hokusai de apresentar a sua versão das cem vistas da montanha que, altaneira, se destaca frente às demais — o Fuji. Igualmente se sobressaem as ilustrações do velho artista, de fama tão elevada quanto os 3.776 metros do monte sagrado. Esta série será aclamada em todo o território, muito além das quinze províncias abençoadas com a visão das suas encostas imaculadas.
A montanha dos milagres ostenta inúmeras designações e Hokusai, por sua vez, trocou de pseudônimo em diversas ocasiões, não menos de dez, evidência da forte conexão entre ambos. Admirador do Fuji há décadas, o artista não se contentou em encaixá-lo em cenários óbvios como cerejeiras em flor sob um luar em céu sem nuvens. Cajado na mão ou transportado por palanquins, peregrinou até sítios distantes, admirando o grandioso pico por entre salgueiros e fardos de arroz. São-nos oferecidas paisagens de íngremes despenhadeiros, mares em ressaca regurgitando ondas de encontro a rochas e trilhas sinuosas esquecidas em vales embranquecidos pela névoa.
Ao escancarar a pura essência da natureza, Hokusai imprimiu sua alma nestas páginas.
Respeitosamente,
Ryutei Tanehiko 柳亭種彦 (1783-1842)
Início do verão do ano do cavalo (1834) da era Tenpo 天保時代 (1830-1844)
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